No segundo dia da descoberta
Voltei aos lugares onde achei as conchas.
Por incrível que pareça, lá, na extensão da mesma praia, a qual percorri inteira, achei várias outras.
Nunca vi tantas em tão bom estado, em tão forte coloração.
Em determinado ponto, notei que estava em uma parte da praia, onde somente haviam conchas ainda ligadas.
Ao final da caminhada, evitei pensar em quaisquer acontecimentos, somente caminhei, observando e coletando as conchas que me chamavam a atenção.
Ao todo 29 conchas, dentre as quais, 25 rosadas, e dentre estas, 6 ainda ligadas, e destas, 3 com ligações muito fortes ainda.
A sensação durante o processo... foi de que nada há a perder... a não ser a capacidade de se deixar ligar.
Tantas conchas sem o par... Poderiam ser mais fortes as ligações entre elas...
Tantas conchas sem o par, mas que precisavam se separar para cumprir sua função.
Tantas conchas sem o par...
E neste espaço onde caminhei, existia beleza, mesmo observando que havia ali a ausencia de toda a quela vida que poderia ainda estar existindo dentro das conchas.
As partes separadas, davam um ar belo às areias mais escuras da praia.
Apesar de algumas conchas serem bonitas juntas, devem se separar para sua beleza aumentar e poder valorizar ainda mais as que ainda estão unidas.
Em alguns lugares, nao existem muitas conchas unidas... em outros há muitas...
Onde será que vale mais uma unida?
A parte real do que caminhei, foi ver que as conchas, apesar de parecerem "tristes" ao estarem separadas, não o são... pois ainda irradiam beleza, na sua simplicidade.
Assim devemos ser...
Explico
Quando temos um relacionamento em nivel mais profundo, temos receio no inicio, pois um vinculo que promete ou supoe-se vir para ser duradouro, assusta. E assusta como nunca. Pois ao primeiro momento, temos receio de ficar presos a algo por mais tempo do que desejaríamos, ficar presos por obrigação...
Nossa mente fica poluída com pensamentos estéreis de sensações tristes. As quais ainda podem ser regadas por vestígios do nosso passado, ou lembrança do passado de outras pessoas, ou ainda, mera especulação negativa.
Após o primeiro momento, quando se supera e ainda não se vive a real ligação, temos medo do fim. quando as partes se separarão.
E em alguns casos, tentamos adiantar o fim, sem ter nem tido ou vivenciado o começo.
O medo de se entregar a essa ligação mais profunda nos causa pavor em alguns momentos, e se nos entregamos a essa sensação, estaremos nos limitando a uma sequencia de fatos nao agradáveis, que nós mesmos estaremos criando, a partir de nossas proprias atitudes. Para depois podermos acusar o outro lado da concha como culpado por isso.
No final, resta ainda as ligações mal encerradas.
Como quando ocorre com as nossas vidas, quando nao conseguimos desapegar de determinadas pessoas que passaram bons momentos conosco.
Aí pode se criar um vínculo vicioso, onde as duas partes mesmo aparentando estarem livres uma da outra, ainda tem algo, por mais invisivel que seja, as aprisionando uma à outra.
Em alguns casos, o vínculo verdadeiro ainda se mantém, mantendo ainda a ligação, mesmo nao existindo a mesma vida entre o casal. Isso não significa que se refira a um casal que more na mesma casa sem se amar, mas sim um casal que mesmo separado, ainda permite o amor viver entre os dois, mesmo sabendo que juntos, não podem manter esse mesmo amor.
Estranho, mas existente. Existem pessoas que se dão melhor após o rompimento das relações do que quando vivenciavam uma relação intima entre os dois.
Em raros casos, quando estão separados, o vinculo aumenta.
Mas o que estive delirando até o momento?
E sobre isso que tento explicar.
Essas são minhas experiências para encontrar a mim mesmo.
Não digo que seja sempre assim, é assim de "onde" eu vejo.
A experiência me ensinou a finalmente libertar mais os pensamentos, sentimentos e reações, afim de que saiam, e fiquem em paz. E me deixem em minha paz. Com minha paz.
A destruição de mais um Maya ocorreu, e ainda há alguns para serem descobertos.
E outros para serem sumariamente eliminados.
Mudanças sempre ocorrem.
Diferenças sempre existem.
Nada permanece sempre igual, nem mesmo as pedras.
O mar, mesmo parecendo sempre o mesmo, tem sua vazante e sua cheia.
A areia da praia, mesmo parecendo sempre estar ali, a todo momento tem suas mudanças.
Mudando um grão de lugar, tudo muda, já não é a mesma praia.
No Taoísmo, aceitar com simplicidade e humildade os fatos, se abrir para o novo, e não se concentrar no resultado desejado, mas sim no momento vivido, o resultado simplesmente aparece quando retiramos o foco do mesmo, é o que concentra a aquisição da sabedoria.
O foco errado no caso das conchas, seria querer a ligação em si, mas sem se dar conta de que é necessária a participação de ambas as partes. Assim sendo, se estaria ignorando parte integrante da solução do problema, se só se observar o foco.
No caso, a equação, depende de 3 variaveis, o par, e o elo que os une. Sendo que o elo aparece quando eles se aproximam. Se eles não se aproximarem, o elo não pode ser criado. E nao pode criar a eles como um novo ser, que seria ali como uniao dos 3, o par e o elo...
O que descobri hoje... Devo desapegar plenamente desses ultimos mayas que ainda me perseguem.
Devo me desapegar de tudo e de todos que me tornem diferente de minha própria essência, para conquistar meu Eu verdadeiro.
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